A porta da cela de Prim se abriu e o Venandi Dunkan surgiu ao lado de outro homem, pequeno e magro, vestido de branco, como se fosse uma espécie de médico ou enfermeiro. Sua estatura não passava de um metro e vinte, a cabeça era grande, com olhos expressivos e boca pequena, a típica representação de um extraterrestre em desenhos e filmes de ficção.

Os companheiros de cela encolheram-se ao ver o pequeno homem, demonstrando muito medo.

— Meu Deus! — murmurou um dos homens, apavorado.

Dunkan aproximou-se de Prim e apontou para o acompanhante.

— Victor é um memoris. Os memoris são ativadores de memórias. Vim buscá-lo para fazermos alguns exames em você.

Prim deu um passo para trás, desconfiado.

— Não tenha medo! Vamos fazer apenas alguns exames de rotina. Todos na Exodus já passaram por isso.

Prim, então, pensou se Dunkan também havia passado por aquilo.

— Eu já passei por isso, também.

A resposta o assustou. Aquele grandalhão podia ler seus pensamentos? Olhou para os outros prisioneiros e todos estavam encolhidos, claramente temerosos com o memoris.

Vendo a porta aberta, Prim teve um impulso de fuga. Correu, mas antes que pudesse alcançar o corredor, Dunkan estendeu a mão e o paralisou com um choque.

— Isso já está ficando muito chato! — reclamou Dunkan, entediado.

Prim quase desmaiou com a descarga elétrica, mas foi levantado pelo venandi com a ajuda do memoris. Saíram arrastando-o da cela.

Mal conseguia firmar-se nas próprias pernas. Passaram por um corredor com várias salas com janelas de vidro, de onde vinham gritos desesperados. Em uma delas, Prim viu outro humano preso a uma cadeira, cercado por imagens violentas e perturbadoras projetadas ao redor dele, como um jogo de imersão em 3D, só que sem os visores.

Logo adiante, um prisioneiro era retirado de outra sala por dois assistentes. Mal conseguia andar e chorava compulsivamente. Ao ver Prim, arregalou os olhos.

— Socorro!!! Me ajuda!!!

O trio passou sem dar atenção, mas o homem ainda tentou alertá-lo:

— Não entre aí! Não entre aí!

Prim ficou apavorado. Tentou resistir, mas ao menor gesto de reação, Dunkan levantou a mão e o intimidou com o olhar e balançando a cabeça. Sem alternativa, foi arrastado até a cadeira. Seus braços e pernas foram presos com pulseiras e tornozeleiras. Seu coração disparava.

Em segundos, o ambiente ao seu redor se transformou numa projeção 3D. Ele revivia os últimos acontecimentos de sua vida, como se estivesse realmente lá. Viu sua rotina tranquila com a família; o assassinato cruel da esposa e da filha; a caçada aos assassinos; a vingança; sua entrada para o crime organizado; e, por fim, a emboscada armada por sua própria gangue.

Ao final, surgiu diante dele, em letras maiúsculas e vermelhas piscando: INEPTA.

Dunkan e o memoris se entreolharam.

— Ei! — gritou Prim, revoltado — Vocês esqueceram um detalhe muito importante nessa história!

Dunkan começou a soltar as pulseiras e tornozeleiras, mas Prim não se acalmava.

— Eu queria sair! Eu ia sair! Eu não era bandido! Foi por isso que eles atiraram em mim!

Levantado da cadeira, Prim resistiu. Ficou violento, deu um soco no memoris, que caiu para trás. No mesmo instante, Dunkan aplicou um novo choque, só que mais violento. Prim perdeu os sentidos e desabou.

Dunkan ajudou o memoris a se levantar e lhe ofereceu um lenço para estancar o sangue que escorria pelo canto da boca.

— Você devia estar preparado para isso. — disse Dunkan — Vacilou. Esse cara não é como os outros.

O memoris assentiu com a cabeça. Ambos olharam para o corpo desacordado de Prim.

— Eu sabia que esse cara ia me dar trabalho. — murmurou Dunkan — Mas eu vou me livrar desse sujeitinho logo, logo. Ah, vou sim.

Os dois se abaixaram, levantaram Prim e saíram arrastando-o como um saco de batatas. Dunkan ia na frente, puxando-o por um braço, enquanto o pequeno memoris apenas segurava a outra mão mais para cima e acompanha o venandi ao lado do corpo do inepta.