Prim recobrou os sentidos novamente. Estava deitado em sua maca na enfermaria, mas suas mãos e pés estavam presos. Uma enfermeira de aparência humana observava um aparelho eletrônico preso ao seu pulso, semelhante a um medidor de pressão digital, que transmitia informações detalhadas para um tipo de tablet. A enfermeira se virou e chamou:

— Doutora! O inepta acordou.

— Meu nome é John! — retrucou ele.

A médica gata se aproximou e pegou o tablet das mãos da enfermeira, que se afastou em silêncio. Verificou as informações e sorriu ao perceber que Prim tentava se soltar das amarras, dizendo com ternura:

— É apenas uma precaução para a sua própria segurança e bem-estar.

Prim a olhou com atenção e respondeu com firmeza:

— Se estão tão preocupados com minha segurança e bem-estar, por que me mantêm preso aqui?

Ela parou o que estava fazendo e o encarou com um sorriso. Seu olhar sereno e maternal desarmou a rigidez com que ele desejava tratá-la. Prim ficou ali, admirando aqueles olhos azuis exuberantes e sentindo uma vibração revigorante. Era como se dela emanasse uma energia suave e curativa, que envolvia cada célula de seu corpo, fortalecendo e equilibrando-o.

— Ninguém aqui está preso. — respondeu ela com brandura — Você está apenas contido para não causar mais mal a si mesmo do que já causou.

Pensando melhor, Prim concluiu que ninguém naquele lugar estranho havia sido agressivo ou violento. Fora ele mesmo quem, diante do desconhecido, assumira uma postura defensiva e tentara fugir sem sequer saber para onde. Para quebrar o gelo, decidiu fazer uma pergunta à enfermeira:

— Quanto tempo fiquei desacordado? Dois dias?

A enfermeira sorriu antes de responder:

— Alguns meses.

Prim quase teve uma síncope ao ouvir aquilo.

— Meses?! — disse, olhando ao redor — Onde estou? Que lugar é esse?

A médica colocou a mão sobre o ombro de Prim, e ele sentiu um grande prazer naquele gesto.

— Você está na Exodus. Bem-vindo a bordo!

A médica recolheu algumas coisas e se retirou, deixando Prim boquiaberto com a resposta, tentando encontrar algum sentido em tudo aquilo.

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O almirante Kurt observava a holografia da Terra com uma expressão tensa. Dunkan, seu braço direito, permanecia em silêncio ao seu lado.

Dunkan começara seu trabalho na espaçonave assim que ela foi inaugurada e entrou em órbita. Mas sua trajetória não foi fácil. Nascido em Krothar, um mundo árido e rochoso, Dunkan pertencia a uma raça conhecida por sua bravura, lealdade e espírito protetor. Sua força, estatura e expressão severa, condizente com sua personalidade, o afastavam das confraternizações entre os tripulantes, tornando-o ainda mais solitário e introspectivo.

Mas o que para muitos era motivo de rejeição, para Kurt era motivo de orgulho. Treinar e dar uma oportunidade ao único kroth de toda a frota estelar era uma satisfação pessoal. Com muito esforço, Dunkan passou por diversos setores até encontrar sua verdadeira vocação: ser um venandi. Sua conduta exemplar, ainda que por vezes violenta, e seu instinto protetor, embora exagerado, foram reconhecidos por todos. Assim se tornou com mérito o líder dos Caçadores de Ineptas.

Ele coordenava os doze venandis da Exodus e tinha sua própria equipe de caçadores, responsáveis por capturar e recolher os espectros energéticos dos rejeitados. Participava pessoalmente das missões mais difíceis na superfície da Terra. Foi ele quem capturou Prim naquele beco escuro e o trouxe a bordo, deixando-o na enfermaria devido aos ferimentos nas costas.

Kurt e Dunkan observavam a holografia da Terra, envolta por uma energia colorida e ondulante. Foi o almirante quem quebrou o silêncio:

— O quantum energético da Terra subiu dois pontos nos últimos seis meses.

— Dois pontos?

— Sim. Agora, creio que o processo não pode mais ser interrompido. O salto quântico do planeta começou e só vai parar quando atingir o padrão vibratório que programamos.

— E essas manchas vermelhas aqui, comandante? — perguntou, apontando para a projeção.