De volta à Terra
O jantar estava servido e a multidão de ineptas formava fila no refeitório para pegar sua tigela de sopa. Klaus e seus dois comparsas ficaram um pouco mais atrás de Prim. Ele não queria que o valentão escutasse o que estava planejando.
— Vocês ouviram o que aquela médica gata disse sobre o cajado do Dunkan?
— Klaus… você não tá pensando em… — tentou interromper um dos comparsas.
— Tô! — respondeu com firmeza.
— Você só pode estar maluco, cara! — disse o outro, visivelmente assustado.
Klaus agarrou o companheiro pela gola da camisa e o puxou para perto do rosto, demonstrando toda a sua fúria.
— Maluquice é ser mandado pra um planeta selvagem pra servir de escravo pra ETs, seu imbecil. — disse, empurrando-o com raiva.
— E como você pretende roubar o cajado do venandi? — perguntou o primeiro.
— Eu? — respondeu, soltando uma gargalhada sombria.
Depois de rir, fechou a cara e apontou o dedo para os dois.
— Vocês é que vão pegar aquele cajado.
— Por que a gente? — desafiou um deles.
— Quem é o cérebro aqui, hein? — vociferou.
Os dois abaixaram a cabeça, mais por medo do que por respeito.
— Se não fosse por mim — bateu no peito duas vezes — vocês já estariam servindo de comida pra dinossauro em Vetris.
Com suas tigelas nas mãos, sentaram-se afastados dos demais. Prim estava sozinho, em outra mesa, pensativo, alheio aos olhares que recaíam sobre ele.
O venandi Dunkan entrou no refeitório imponente. Ninguém, além de Prim, ousava encará-lo. “Que sujeitinho petulante”, pensou Dunkan, incomodado com o olhar firme de Prim. “Ah, esse inepta metido vai ter o que merece em breve”, pensou, sorrindo ao imaginar Prim enfrentando um mamute gigante.
— Ô chefe… — chamou um dos capangas — não tô vendo o cajado com o grandão.
— É claro que não, imbecil! — dando-lhe um tapa na nuca — O cajado abre o portal pra Terra. Ele só leva em missão com os Caçadores de Ineptas.
— Ah, tá…
— Quero que fiquem atentos e descubram quando será a próxima expedição pra lá.
Os três sorriram, sentindo o gostinho da liberdade se aproximando. O sorriso de Klaus, no entanto, era mais sombrio do que esperançoso.
— Ele tá falando com aquele guarda. — apontou Klaus — Vai lá e escuta o que tão dizendo. — empurrou o comparsa, que quase caiu do banco.
O homem se aproximou disfarçadamente, fingindo que ia pegar mais sopa, e esticou o ouvido.
— Acho que você já tá preparado. — disse Dunkan ao guarda — Quero você na próxima equipe de busca.
O guarda sorriu de orelha a orelha.
— Obrigado, senhor! Farei o meu melhor.
— Seu melhor não basta. Você tem que dar tudo de si. Os riscos são altos.
— Sim, senhor.
— Você vai integrar o terceiro pelotão. Vá para o alojamento 242-B e se junte aos seus companheiros. Já mandei alguém te substituir. Partimos em uma hora. Esteja pronto.
— Sim, senhor! — disse ele, radiante.
Dunkan então lançou um último olhar pelo refeitório, parando em Prim, que encarava sua sopa sem tocá-la. Sem dizer mais nada, virou-se e saiu a passos largos.
O espião correu para contar tudo ao chefe, que ficou eufórico.
— Então… — murmurou Klaus — é hoje!
Olhou para Prim e falou entre os dentes:
— Mas vamos precisar dos poderes do nosso super-herói.
Levantou-se com confiança e se sentou ao lado de Prim, cochichando algo em seu ouvido. A princípio, Prim o ignorou, mas algo que ouviu chamou sua atenção. A conversa se intensificou. Estavam traçando um plano. Ou seria aquela noite, ou nunca mais. Era arriscado demais, mas tinham que tentar.